Os 217 municípios do Maranhão poderão ficar, progressivamente, mais quentes e mais secos até 2070. A Região Oeste do estado, por exemplo, poderá ter um aumento de mais de 5°C e uma diminuição de até 32% no volume de chuvas no período indicado. O Litoral Maranhense será a região menos afetada pela alta da temperatura.
As informações fazem parte de uma pesquisa inédita que avaliou a vulnerabilidade das cidades maranhenses à mudança do clima. Coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, o estudo faz parte das atividades do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima.
Os resultados da pesquisa serão divulgados durante o Seminário Indicadores de Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que ocorrerá no dia 8 deste mês, às 9h, no Hotel Luzeiros, em São Luís.
Para a coordenadora do projeto, Martha Barata, ainda há incertezas sobre os impactos das mudanças climáticas e seus efeitos, no entanto, é preciso definir estratégias para entender como o clima pode afetar as populações, os ecossistemas e as atividades econômicas dos estados e municípios.
“A proposta do projeto é criar indicadores que permitam a análise da vulnerabilidade humana à mudança do clima. A partir da coleta e combinação de informações, é possível ter uma melhor interpretação sobre os municípios que são mais e menos vulneráveis às alterações climáticas e, desta forma, elaborar ações de adaptação que possam contribuir para o desenvolvimento local”, destaca a pesquisadora.
Mudanças
A pesquisa feita sobre os municípios maranhenses indica que a Região Centro-Oeste e o Extremo Norte do estado poderão ser as áreas mais impactadas pela diminuição no volume de chuvas.
O município de Bom Jesus das Selvas, por exemplo, poderá ter redução de 32,2% na precipitação. Em cidades como Carutapera e Amapá do Maranhão é esperada uma queda de até 30% na pluviosidade nos próximos 25 anos.
De acordo com as projeções feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o período de 2041 a 2070 – dados considerados para a realização do estudo, a temperatura na porção Oeste do estado poderá aumentar até 5,4°C, com destaque para o município de São Pedro da Água Branca.
Em cidades localizadas na área Central do Maranhão, como Barra do Corda e Jenipapo dos Vieiras, o aumento pode chegar a 4,8°C. O Litoral Maranhense seria a parte menos afetada, com acréscimos entre 2,8°C (em Cururupu e Porto Rico do Maranhão) e 3,3°C (em Cândido Mendes e Turiaçu).
Para o número de dias secos consecutivos ao ano, índice chamado de CDD (sistema de classificação decimal de Dewey), o estudo indica que as populações que vivem no Centro-Oeste do estado poderão lidar com o aumento dos períodos de estiagem.
Elevação
Em Altamira do Maranhão e Alto Alegre do Pindaré, por exemplo, as elevações nos dias seguidos sem chuva podem chegar a 92,6% e 90,4%, respectivamente, em comparação com o período atual.
Em São Luís, a temperatura poderá aumentar 3,1°C nos próximos 25 anos. Em relação ao volume de chuvas, a capital maranhense poderá ter uma redução de 30,3% e o número de dias seguidos sem chuva pode ter uma elevação de 65,4%.
Mais
Mudanças climáticas no Maranhão
– A Região Oeste terá aumento de mais de 5°C e diminuição de até 32% no volume de chuvas.
– Em São Luís, a temperatura poderá aumentar 3,1°C nos próximos 25 anos
– Municípios situados no Cerrado poderão ficar mais quentes, já que a temperatura poderá chegar a 5,1°C em comparação com o período atual
– Volume de chuvas no Maranhão será reduzido nos próximos anos
“É preciso definir estratégias para entender como o clima pode afetar as populações, os ecossistemas e as atividades econômicas”
Martha Barata
Coordenadora do projeto
Diversidade de biomas caracteriza estado
O Maranhão tem características do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, logo, há diversidade de biomas: o Cerrado prevalece em 64,1%, a Amazônia em 34,8% e a Caatinga em 1,1% do território do estado. Nuances diferentes de clima, vegetação, hidrografia, litoral, relevo, história e cultura.
As projeções feitas na pesquisa indicam que, além das populações, algumas atividades como a pesca, pecuária, agricultura, extração de madeira e babaçu podem ser afetadas, caso não sejam adotadas estratégias de adaptação à mudança do clima.
A análise feita aponta que, no bioma Amazônia, o aumento da temperatura pode variar entre 2,8°C e 5,4°C, compreendendo a porção oeste do estado e uma parte do litoral. O volume de chuvas poderá diminuir até 32,2%.
Cerrado
Os municípios situados no Cerrado poderão ficar mais quentes, já que a temperatura poderá chegar a 5,1°C e a redução da precipitação pode variar entre 19,2% e 31,2% em comparação com o período atual.
As mudanças na Caatinga (que está limitada a pequenos fragmentos no extremo leste, na divisa com o Piauí) podem ocorrer por causa do incremento de temperatura de até 4,2°C e da redução de pluviosidade que pode chegar a 23,3%.
Vulnerabilidade humana à alteração climática
O Maranhão foi um dos seis estados escolhidos para participar do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que também avalia a fragilidade humana à alteração do clima nos municípios do Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná e Pernambuco.
Para o desenvolvimento do estudo, são consideradas informações de cada município sobre preservação ambiental, dados sobre a população, como saúde e condições socioeconômicas.
Também foram inseridas doenças como dengue, esquistossomose, leptospirose e leishmanioses tegumentar, americana e visceral. A partir da combinação e análise desses dados, é possível calcular o Índice Municipal de Vulnerabilidade (IMV).
O cálculo da vulnerabilidade considera três elementos – exposição, sensibilidade e capacidade de adaptação da população, tomando como referência dois cenários de clima futuro: um com redução nas emissões de gases do efeito estufa e menor aquecimento global e outro com o aumento contínuo dessas emissões com maior impacto no clima.
Exposição
No Maranhão, a pesquisa aponta que a parte central do estado, com destaque para o município de Trizidela do Vale, pode ser considerado o mais exposto à mudança do clima, em virtude dos desmatamentos e desastres meteorológicos, como enchentes e estiagem.
Para a sensibilidade, índice que destaca a intensidade com a qual os municípios são suscetíveis à mudança do clima, Senador Alexandre Costa apresentou o maior valor. Algumas cidades do Centro-Oeste do Maranhão, como Buriticupu e Santa Luzia, também seriam mais sensíveis às alterações climáticas.
O estudo mostrou que Porto Rico do Maranhão e São Luís seriam os municípios mais adaptados para lidar com a mudança do clima, em virtude da estrutura socioeconômica, do número de leitos hospitalares e da atuação da Defesa Civil. A cidade de Marajá do Sena seria a menos adaptada.
Fonte: imirante.com.br
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