Por Isaías Rocha
Fonte: Folha Maranhão/Bacabeira
O canteiro de obras da refinaria Premium I, da Petrobras, em Bacabeira, apontado como o maior empreendimento do Maranhão, com a promessa de gerar mais de 200 mil empregos em sua fase de construção e milhares de outros na fase de operacionalização, começou a ser desmontado. As fotos obtidas com exclusividade pela reportagem mostram a retirada de equipamentos que seriam usados na construção do empreendimento, que não será mais construído por falta de investimentos da Petrobras.
Na última quinta-feira, dia 28 de fevereiro, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em entrevista a uma emissora de rádio, reconheceu que a Petrobras encontra “certa dificuldade financeira para concluir as obras da Refinaria Premium 1, no Maranhão”. Segundo ele, a presidenta da estatal, Graça Foster, está na China em busca de parcerias para viabilização do projeto.
De acordo com Lobão, a construção dessa refinaria e de outras, como a de Pernambuco e a do Rio de Janeiro, é importante para a reduzir as importações de diesel e gasolina no país. “Esse projeto não pode acabar porque é uma necessidade para o país. Estamos importando gasolina e diesel em grande quantidade, não porque não temos petróleo, mas porque não temos refinaria.”
Apesar de reconhecer a dificuldade financeira da Petrobras, o ministro garantiu que a rodada de negócios na China ocorre a convite do país. “Ela [Graça Foster] recebeu convite para isso. Ela não está lá à procura de investidores”, destacou Lobão. Caso consiga fechar parceria, os recursos também podem ser usados nas obras da refinaria do Ceará.
No início da semana, os comentários que se propagaram nas ruas de Bacabeira, davam conta de que o acampamento da Refinaria Premium I, estaria sendo desmontado, pois, segundo as informações, o empreendimento não será mais construído por falta de recursos.
O assunto ganhou repercussão ainda maior durante a sessão na Assembleia Legislativa na última quarta-feira (27), quando o líder do governo, César Pires (DEM), pediu explicações sobre a paralisação das obras. Ele disse que a instalação da refinaria vem sendo colocada como um dos carros-chefe do desenvolvimento do Estado, mas desconfiou da finalização da obra.
“Gritei pelo aeroporto, gritei pela estrada e estou falando agora pela refinaria de Bacabeira. Quem quiser silenciar que silencie”, declarou. “Temos que lutar por tudo isso, sob pena de um Ceará gritar e ser ouvido, de um Pernambuco conseguir gritar. Independente da posição política que ocupemos, nada pode nos levar a silenciar em ver a situação que se encontram as obras da refinaria. Estou errado como governista em dizer isso?”, completou.
Imagens revelam, dentre outras coisas, que a Petrobras não teria mais interesse em investir no empreendimento no município bacabeirense. Em crise, a estatal não teria dinheiro para bancar a construção da refinaria. Os investimentos são superiores a R$ 40 bilhões e, com os cofres vazios, a empresa precisa economizar, cortar despesas e se desfazer de refinarias que comprou fora do Brasil para equilibrar o caixa.
Sem dinheiro, a Petrobras não tem como bancar a construção das refinarias no Ceará e no Maranhão. É uma triste notícia para a economia do Maranhão. A expectativa criada sobre a implantação do empreendimento foi grande e, na mesma proporção, está sendo a frustração com esse sonho que demora a se transformar em realidade.
No último sábado, por exemplo, o que deveria ser um canteiro de obras virou uma espécie de brechó com vendas de produtos usados de tudo o quanto. Era caixa d’água, ar condicionado, vaso sanitário... os equipamentos estavam sendo vendidos a preço de liquidação. Um ar condicionado que custa em média R$ 900 reais, estava sendo adquirido por R$ 70 reais. Uma Caixa d’água de 3000 litros, que custa no mercado aproximadamente R$ 800 reais, estava sendo adquirida no canteiro de obras da Petrobras, por R$ 40 reais.
Além da incerteza envolvendo a refinaria, empresários de Bacabeira acusam a empresa de engenharia elétrica Marza de dar calote no comércio motivando a instalação de processos na Justiça contra a empreiteira prestadora de serviços da Petrobras.
De acordo com as denúncias, as dívidas da companhia com funcionários e fornecedores somam R$ 1.000.300.000 (um milhão e trezentos mil de reais), e se acumulam desde maio de 2012, quando foram iniciadas as obras da Refinaria Premium I, a maior do Brasil e a quinta maior do mundo.
Registrada com CNPJ n° 00.961.981/0001-33, a empresa tem o nome fantasia “Marza” e funciona no número 252 da Rua João Thon, Condomínio Matarozo, no Centro de Jaguariaiva, no Paraná.
Ao registrar a “Marza Engenharia Elétrica Ltda” (nome que consta na razão social), o representante informou ao fisco nada menos que 09 atividades de atuação. Na atividade econômica principal, diz que atua com serviços de engenharia.
Na secundária, ela se apresenta como administração de obras; outras obras engenharia civis não especificadas anteriormente; instalação e manutenção elétrica; obras de terra planagem, perfuração e sondagens; construção de estações e redes de distribuição de energia elétrica; comercio varejista de material elétrico; comercio varejista de material hidráulico.
1001 UTILIDADES
Foi com essa “mil e uma utilidades” que a Marza juntamente com a empresa Siemens, formaram o consórcio SIEMAR e viraram prestadoras de serviços da Petrobras para trabalhar construção da Refinaria Premium I, em Bacabeira.
Na época, o início oficial da obra, ocorrido em 31 de maio de 2012, foi marcado pela entrega do Código de Ética da Petrobras aos executivos da Siemens e da Marza, conforme foto publicada no site da Siemens.
Em Bacabeira, o Lava a Jato do Samuel; o Restaurante Serv-Bem; proprietários de imóveis alugados e caçambeiros estão entre os fornecedores que foram vítimas do calote. Os débitos da empresa no município ultrapassam os R$ 100 mil.
O QUE DIZ A PETROBRAS?
Os empresários que foram vítimas do golpe levaram o caso à diretoria da Petrobras, mas a estatal informou que não tem como obrigar sua prestadora de serviços a pagar os débitos. No escritório da MARZA/SIEMAR em Bacabeira, ninguém quer comentar sobre o caso dos fornecedores lesados. Enquanto isso, os protestos contra a empresa vão se acumulando nos órgãos de proteção ao crédito. De maio a janeiro foram mais de 700 protestos.
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