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HOMENAGEM A DONA TETÉ, A PRIMEIRA-DAMA DO CACURIÁ NO MARANHÃO

  
Dona Teté (*1924 +2011)

Faleceu no início da madrugada deste sábado (10) Almeirice da Silva Santos, a Dona Teté do Cacuriá, aos 87 anos.

Ela estava internada há um mês na UTI do Hospital Carlos Macieira, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O velório de Dona Teté foi realizado na casa em que morava, na rua dos Guaranis, no bairro João Paulo. O enterro foi por volta das 16h no cemitério da Pax União, em Paço do Lumiar.

No Casarão do Laborarte, no Centro Histórico de São Luís, local onde Dona Teté ensaiava a famosa e sensual dança do Cacuriá, que ela tanto adorava, todos estavam de luto por seu falecimento.

"A cultura popular perde mais uma expressiva figura. Dona Teté tinha dentro de si o envolvimento com as festas populares de São Luís. Fiz parte da produção do CD ‘Divino Cacuriá de Teté’ e a admirava pela sua força e atitude", declarou o maestro Chico Pinheiro.

Vida e obra de Dona Teté

Almerice da Silva Santos, nascida no Sítio da Conceição, bairro do Batatã, em São Luís do Maranhão, aos 27 de junho de 1924, era popularmente conhecida como "Dona Teté". Cantora e compositora, detinha o título honorável de dama da cultura popular maranhense, em detrimento de seu famoso Cacuriá, dança provocante e envolvente por seu ritmo e coreografia sensual, incrementada pela própria Dona Teté.


Veio ao mundo pelas mãos de uma parteira, em casa mesmo, como todos em sua família de oito irmãos. Passou a ser chamada de "Teté" no dia do seu batizado, a pedido do padre, que achava o nome Almerice muito grande para uma menina tão pequenina.

Criada com a avó paterna e a madrinha – pois perdeu a mãe aos quatro anos de idade e o pai aos quatorze – Dona Teté passou a infância na rua do Cisco, hoje Riachuelo, no bairro do João Paulo.

Aos 12 anos começou a trabalhar como empregada doméstica, ofício que só largou aos 58 para cantar Cacuriá.

Estudava em casa, fazendo cartilha, e cursou apenas a 1ª série do ensino fundamental. Não pôde continuar os estudos por não ter como pagá-los e, também, porque precisava trabalhar.

Mas todas essas dificuldades não foram obstáculo para que sua estrela viesse a brilhar anos mais tarde. Dona Teté definia-se como autodidata. Certa vez confessou que aprendeu a tocar caixa aos oito anos de idade, “espiando” uma senhora chamada Maximiana, que morava perto de sua casa. Como ninguém da sua família gostava de participar de manifestações populares, ela teve que improvisar uma passagem na cerca do seu quintal para poder ter acesso à casa de dona Maximiana. “Eu aprendi olhando e escutando, ninguém me ensinou”, enfatizava sempre que era questionada sobre o assunto. Assim que aprendeu a tocar caixa, a pequena Teté passou a ser freqüentadora assídua de ladainhas e alvoradas.


Sua inserção no mundo da cultura popular maranhense se deu por volta dos seus 50 anos, quando começou a participar das festividades do Divino Espírito Santo, promovidas pelo folclorista Alauriano Campos de Almeida, o "seu" Lauro, na Vila Ivar Saldanha, em São Luís. Chegou a participar de grupos de tambor de crioula, mas sua grande paixão se tornou a dança do Cacuriá.


Sempre polêmica com seu jeito de dançar – no Cacuriá de seu Lauro era a única que rebolava de jeito sensual – destacou-se entre as outras dançarinas e em 1980 recebeu um convite do Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte) para ensinar o toque de caixa do Divino para uma peça teatral chamada “Passos”.

Cacuriá de Dona Teté

Em 1986, com a ajuda do grupo, criou o "Cacuriá de Dona Teté", que hoje é conhecido dentro e fora do país. Já se apresentou em São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Goiás, Pernambuco, Tocantins e Bahia, e em 1994 foi com o grupo para Portugal.

Contava que havia sido muito feliz com o seu marido, Manoel dos Santos, a quem chamava carinhosamente de “seu Manoel” ou “Carneiro”. Teve apenas uma filha, que lhe deu cinco netos. Seu Manoel não gostava muito da idéia de sua esposa passar as noites de São João pelos arraiais da cidade dançando ou cantando Cacuriá, mas não reclamava e nunca a impediu de fazer o que gostava.

Em 1997, Dona Teté perdeu o seu fiel companheiro. Da sua família, a única pessoa que herdou o gosto pelo Cacuriá foi seu neto, Beto, que já foi caixeiro da brincadeira e seu grande parceiro em todas as apresentações e diversões do período junino.

O Cacuriá era a atividade mais importante da vida de Dona Teté, que também era coreira de tambor de crioula e rezadeira de ladainhas. Desde que largou a vida de empregada doméstica, só o que fez foi cantar e tocar Cacuriá. Sua maior alegria era ensinar as pessoas – crianças, jovens, adultos, idosos – a dançar, a cantar e a tocar o Cacuriá. Dizia que, quando morresse, queria ser lembrada como aquela que ensinou ao povo a dança do Cacuriá.

E o povo, com certeza, não a esquecerá. Em todos os locais em que chegava para apresentar a sensual dança, Dona Teté era recebida com bastante entusiasmo pelo público. Seu carisma, sua alegria e, principalmente, sua irreverência, eram as características mais marcantes, o que indubitavelmente contribuirá para que a lembrança do Cacuriá de Dona Teté jamais feneça no coração de todos os amantes da cultura popular maranhense.


Blog Hugo Freitas rende homenagens pétreas a Dona Teté, cuja simplicidade e atitude marcaram profundamente a visão do autor destas mal traçadas linhas sobre a cultura produzida no Maranhão, digna de admiração.

Com informações do Jornal Cazumbá
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