Alegria e tradição marcam o Carnaval do Bis de São Simão

Por Gutemberg Bogéa

JP Turismo

Mesmo depois de passado o carnaval, foliões de diversos cantos do Maranhão ainda esbanjaram fôlego e animação para brincar mais um dia de festa carnavalesca no povoado de São Simão, no município de Rosário, há 60 km de São Luís. O Carnaval de São Simão mostrou que muito antes de se falar em carnaval fora de época baiano, no Maranhão, já se fazia este tipo de festa como bem sabem os maranhenses, que há mais de 50 anos no estado ainda resiste o carnaval de São José de Ribamar, e há mais de três décadas se mantém essa tradição em Rosário. A festa, que se traduz pela fidelidade de suas origens, batizada a mais de 30 anos de “Bis do Carnaval”, recebe milhares de visitantes no segundo domingo, após o período de carnaval para reverenciar as principais brincadeiras do povoado de São Simão, grupos convidados de São Luís e as escolas de sambas vencedoras do carnaval da cidade de Rosário.

O local se transforma num verdadeiro centro de alegria, com dezenas de donos de bares fazendo sua própria folia na companhia de amigos e visitantes, os mesmos saboreando churrascos feitos em churrasqueiras levadas por grupos de amigos e familiares e que são degustados por todos os participantes da festa numa confraternização harmoniosa e calorosa de amizade, fazendo esquecer os tempos de violência e medo que se vive hoje nos grandes centros do país.

Mestre Sala e Porta-Bandeira em exibição nas ruas do povoado

Batucadas tradicionais na linda festa do bis do carnaval

Ala das baianas no circuito da folia

Passistas mirins mostram desenvoltura

O cortejo do Fuzileiros da Fuzarca em mais um ano de participação

O prefeito de Rosário Marconi Bimba e a primeira-dama

A forma de manter as raízes pelos moradores do povoado tem conseguido fomentar muitos visitantes ao povoado, principalmente da região do Munim, e isso começa a ser descoberto por simpatizantes de um bom carnaval em diversas outras regiões. Agora, mais do que nunca, na capital São Luís, pois o número de foliões ludovicences aumentou consideravelmente no carnaval do bis do povoado.

A Festa do Bis do Carnaval

A festa começou no sábado, à noite, com barracões montados ao longo do circuito realizando bailes populares. Os visitantes que chegavam ao povoado, hospedavam-se em casa de amigos ou buscavam hospedagens nas cidades dos arredores, como Rosário, a menos de três minutos, e que dispõem de uma boa opção de hotéis e pousadas, com banheiro individual, TV, ar condicionado e frigobar; ou em cidades como Morros e Axixá, há pouco menos de 20 minutos, dispondo da mesma infra-estrutura.

Quando se fala em tradição, o povoado de São Simão e a região do Munim já começam a despontar como referência no estado, não só pelo carnaval, mas por toda uma prática de ações e gama de festejos, folclore e autenticidade que são vistas na região.

O domingo do carnaval de São Simão começou logo cedo, os visitantes começaram a chegar de todos os lados e a cidade já ornamentada recebia quem chegava com alegria e satisfação. Os moradores se reuniam nas portas das residências se confraternizando e esperando os grupos que chegavam dos povoados e cidades vizinhas. Pessoas fantasiadas, brincadeiras com espuminhas, maisena davam o verdadeiro toque do clima carnavalesco, sempre com muito respeito a quem não desejava entrar no clima.

Na parte da tarde do domingo, o policiamento retirou os carros das ruas, pondo todos em estacionamentos abertos por moradores. A bebida foi proibida de ser vendida em garrafa, sendo servida só em garrafas de plástico para que não houvesse nenhum incidente, ficando para os ambulantes a venda de cervejas em latas, tudo isso na maior cooperação da população com os responsáveis pela organização.

Segundo o prefeito da cidade de Rosário, Bimba, “essa é foi uma forma encontrada de se colaborar para que a paz reine na festa e se consiga minimizar consideravelmente os incidentes que possam vim a acontecer”. Marconi Bimba se disse bastante satisfeito, e que não medirá esforços para garantir incentivos para a festa.

A grande festa

Na parte da tarde do domingo, um colorido tomou conta do povoado de São Simão, foram às escolas de sambas, blocos e convidados que começavam a se fantasiar com seus grupos e as brincadeiras vindas dos mais diversos povoados e cidades vizinhas para o grande desfile nas ruas da cidade. O palco armado em frente à igreja de nossa Senhora da Conceição recebia todas as agremiações para que fossem entregues os troféus de participação a todas as brincadeiras.

Aí o que se viu, foi uma festa marcada pela tradição. O primeiro grupo a se apresentar no circuito veio de São Luís, do bairro da Madre Deus, sendo o segundo ano consecutivo que o grupo participa da festa, o Fuzileiros da Fuzarca. O grupo comandado pelo mestre Zé Pivô, subiu as ruas da cidade exatamente às 16h, fazendo um cortejo da sede da Mangueira (escola do povoado), até o palco armado em frente à sede da Associação da Casa das Velhas, na pracinha da igreja Nossa Senhora da Conceição.

A festa entrou pela noite com a presença ainda de agremiações de São Luís, como o bloco Os Vigaristas; e dos blocos do povoado, como o Caranguejo, Crocodilos, Meninos Lindos, Grupo Raça e Mangueira do Samba.

Um dos momentos marcantes da festa do carnaval do bis de São Simão ficou na memória na participação das três primeiras colocadas do carnaval rosariense na festa.

A primeira a se apresentar foi a tradicional Guia do Samba que numa cadência e elegância mostrou o verdadeiro batuque de samba que a levou a obter o primeiro lugar no carnaval de Rosário, nas cores azul, amarelo e branco como predominância.

A escola de samba Amigos do Samba nas cores vermelho e branco veio logo a seguir mostrando que a rivalidade entre as duas e a disputa acirrada está longe de acabar, pois também mostrou um belíssimo trabalho que lhe deu o segundo lugar na cidade de Rosário, a Unidos do Samba terceira colocada foi a ultima a se apresentar.

Uma verdadeira festa que deve com certeza fazer parte do calendário turístico do estado.

Vale ressaltar também a participação do efetivo da 7ª Companhia da Polícia Militar, que sobe comandar a segurança através do Major Donde e da Drª Antonia Secretaria de Saúde que esteve presente durante toda folia.

COMO TUDO COMEÇOU

Em meio à multidão, um folião passava despercebido, exceto para aqueles que conheciam a sua história. Natural de Rosário, Manuel Domingues, mais conhecido no ofício como Manuel Sapateiro, foi pioneiro nesta iniciativa.

Seu Manuel é folclorista, artesão, e seu trabalho se estende por toda região do Munim, realizando as danças de salão no mês de junho, além de alguns bailes à fantasia, do grupo da melhor idade ‘Despertar’ e do famoso ‘Bloco do Galo’ durante o período momesco.

Há quarenta anos, foi ele quem levou a primeira brincadeira ao povoado, iniciando o ‘lava-pratos’ depois de quinze dias, após a passagem do Carnaval. Convidado por Hanilton Pedroso Raiol, professor, por alguns anos, vereador, e realizador das manifestações folclóricas em São Simão como o Carnaval, São João e Festejos de Nossa Senhora da Conceição.

“Eu tive a idéia de levar o carneiro (cuidadosamente confeccionado em madeira por ele mesmo), e mais um grupo de doze brincantes, e apenas três músicos – um trompetista, um banjista e uma marcação”, disse Seu Manuel. Curiosamente, o trompetista atendia pelo apelido de ‘Raimundo Vinte e Oito’, o banjista era Seu Januário e a marcação era um rapaz que ele não conseguiu lembrar o nome.

O bloco, digamos assim, percorreu pelas ruas do lugar, parando à frente de algumas casas, dos chamados ‘padrinhos e madrinhas’, onde era servida bebida e comida aos resistentes foliões.

E assim foi seguindo os anos, até no quarto ano, já com outro bicho à frente do bloco – O Galo; e tendo que contratar um igaripé (canoa grande) para a passagem dos componentes da brincadeira. Por que nesta época sequer havia outra maneira de chegar até a localidade, já que não existia ainda a ponte ou o chamado ‘pontão’, para atravessar o Rio Itapecuru.

Fonte: Jornal Pequeno.